2 anos de Sage.
A vida inteira morando cercada de maresia por vários estados do país me fizeram perambular de biquini pela casa no mínimo 300 de 365 dias ao ano. Lembro de acordar, colocar um short e um top de biquini e começar o dia. Sempre em dupla com a minha mãe, que já iniciava a manhã varrendo a casa com apenas um top cortininha ou um meia taça.
Dona Luciana como boa praiana de Angra dos Reis, colecionava biquinis na sua época dourada e guardava todos eles em perfeito estado - onde aos meus 15 pude prová-los e me encantar com a qualidade de uma peça que estava ali há mais de 20 anos - e foi exatamente como começou a minha paixão. Naquelas mini peças que minha mãe guardou com tanto carinho por tantos anos, e ainda estavam intactas.
Perto dos meus 17 anos, no terceiro ano do ensino médio, eu já trabalhava como designer. O sonho da Duda adolescente era surfar e morar no Hawaii. Logo, arranjei um namorado surfista e ficava esperando o bonito surfar por horas nas areias de Ipanema. Usava esse meu tempo vago pra reparar nos biquinis das meninas que passavam e pra entender o preferido entre elas, o mais usado por cada tipo de corpo, como amarravam, cores e estampas.
Em uma das reuniões de família, conheci a namorada do meu cunhado na época. Brasileira, cabelo cacheado e dourado de sol. Mila morava no Hawaii e possuía uma marca de biquinis de sucesso, vendia e viajava pelo mundo inteiro - apenas - criando biquinis. Foi quando meus olhos brilharam e fui pro meu computador brincar de branding. Abri o photoshop, escolhi a minha fonte preferida, e digitei o nome de uma surfista que eu amava: SAGE. Desenhei alguns biquinis, fiz paleta de cores, sonhei com as embalagens e salvei tudo numa pasta. Lembro dos biquinis serem: azul royal, amarelo e preto. Tudo o que eu queria na época: um biquini liso brilhante, sem muita enrolação, mas que tivesse cara de chic. Peças que pudessem passar de geração pra geração, como houve comigo. ‘‘Vou guardar’’ pensei. ‘‘Se daqui uns anos eu ainda achar bonito, sinal de que serão realmente peças atemporais’’.
Deixei esse sonho quieto, mas cada vez que um ano se passava, a Sage aparecia na minha mente como quem quisesse logo vir ao mundo. Cheguei a morar em Maceió e tentar começar por lá (até fiz moodboard de campanhas pelas praias alagoanas), mas zero estrutura pra fornecedores, e deixei de lado.
Foi quando a vida me arrastou pra São Paulo (depois de um curso de aeromoça e trabalhos como Diretora de Arte), que decidi criar a marca do zero. Eu ainda trabalhava como designer ganhando 1.500,00. Contei meu sonho pro meu atual namorado, ele me cedeu espaço no seu apartamento, e assim comecei. Foram incontáveis dias pesquisando lojas sozinha (e quilos e mais quilos de tecidos parcelados no cartão de crédito passeando pelas estações de metrô) em uma cidade que eu não conhecia, pesquisando fornecedores, costureiras (inclusive uma delas me deu um lindo calote e devolveu todas as minhas lycras completamente cortadas e eu e Pedro choramos juntos).
Coloca aí uns 9 meses de processo até achar o fornecedor certo, o modelista perfeito, alguém que te entendesse. Sandro apareceu na minha vida logo na noite em que eu tinha perdido tudo. Ele me convidou pra provar um piloto na sua casa, antes mesmo de ter o ateliê que tem hoje. E foi um encontro de almas. Trabalhamos incansavelmente por alguns meses até ter tudo pronto, escrevi a primeira campanha, chamei uns amigos pra fotografar e mal sabíamos que aquela manhã ensolarada no Rio, seria nosso último Janeiro antes de uma pandemia.
2 meses depois com campanha no ar e biquinis em estoque, chegou quem vocês já sabem. Foram exatos 3 meses até começar a vender de verdade - e quando vendeu pra valer eu soube que se estava funcionando no meio de uma pandemia e lockdown, poderia funcionar pra sempre. E aí começaram os e-mails. Australia, Portugal, California, Londres… O mundo inteiro já estava de olho e me virei em 5 pra conseguir começar a exportar.
2 anos. Mais de Mil peças vendidas. Clientes pelo mundo inteiro. Uma recente entrada na Amaro - um dos maiores e-commerces nacionais - e ainda muito, mas muito sonho no bolso.